Eu te espero
Hoje à noite,
Como há tantas
E tantas noites
Eu espero.
Quero que venha
E que seja
Silenciosa.
Generosa.
Carinhosa.
Quero que venha
Já sabendo o que fazer.
Quero que venha
Com uma mentira pronta
E doce,
Para amenizar o amargo
Da boca daqueles que venham a chorar.
Quero que seja rápida.
Simples.
Única.
Se possível,
Agrada-me a ideia
De que seja misturado a um sonho,
Sem que haja a necessidade de despertar
E compreender
O que se passa.
Quero que me permita partir
Sem que seja preciso olhar pra trás
E ver que, tantos livros, de nada serviram,
Pois, no fim, o desespero calou a razão.
Permita-me, por favor,
Ir sem olhar nos olhos de ninguém.
Permita-me,
Embora eu saiba que seja impossível,
Escapar da vergonha de ter caído
Sem conseguir levantar.
Venha.
Esperarei, admito,
Com receio,
Mas de peito aberto.
Aliviado.
Conformado com meu próprio pedido.
E se vier, mesmo, te prometo.
Poderá contar a história que quiser,
Como bem entender.
Mas peço que não esqueça
Do meu simplório pedido.
Um pouquinho de falsa glória,
Uma desculpa conveniente,
Para não tornar tão pesado
O fardo de quem fica.
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