domingo, 29 de abril de 2012

Inverno

Quando chega a noite
E tudo silencia,
Eu lembro,

Dos passos apressados
Para fugir do frio.

Das mãos trocadas,
Transpassadas,
Escondidas nos bolsos,
Um do outro.

Eu lembro de tudo.


Eu lembro de bala,
De beijo,
De chocolate,
E café.

Lembro da lareira
Que não era nossa,
E que, justamente por isso,
Acalentava ideias sobre uma vida futura.

Eu lembro de tudo.


Eu lembro de coisas
Que nem mesmo sabia.

Lembro de brigas
E de recomeços.

Lembro de noites estranhas,
Sombrias.
Noites sem palavras.
Noites sem sentido.

Lembro de noites felizes,
Perfeitas.
Noites sem palavras.
Noites sem lágrimas.


Nuca arrepiada,
Riso abafado.

Eu lembro.


Lembro dos olhos molhados,
E do gosto confuso,
Meio amargo, meio azedo,
De não saber o que dizer.

Lembro, também, de não ter certeza,
E de me deixar levar por isso.


Lembro que você sempre dizia
Que um dia eu saberia
O que fazer.
Mas você, ao contrário de mim,
Era feliz, sim, e sabia.
Você sempre soube da sua felicidade.
Sempre soube ser feliz.

Disso eu também lembro.


E mesmo em meio a tantas lembranças
Há, ainda, o que esqueço.
Coisas simples,
Pequenas,
Quando comparadas a tudo que rememoro.


Não lembro onde paramos,
Nem por qual caminho segui.
Não lembro da saída,
Nem da chegada.
Não tenho noção alguma de como vim parar aqui.
Só lembro que vim.

Disso, eu não esqueço.

Aliás.
Disso, eu sempre lembro.


Eu sempre lembro.

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