quinta-feira, 31 de maio de 2012

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     Você deixa de acreditar no amor, quando percebe que a mais doce das pessoas pode se transformar no pior dos monstros.

     Você deixa de acreditar no amor, quando percebe que a mais doce das pessoas se transformou no pior dos monstros.

     Você deixa de acreditar no amor, quando percebe que você transformou a mais doce das pessoas no pior dos monstros.

...

 

Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone


E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome



Esquadros - Belchior / Adriana Calcanhoto

Humano


Hoje,
Guardarei as críticas.

Minha visão do mundo,
Sempre tão inóspita,
Vai ficar em uma gaveta,
Até que eu possa lidar,
Novamente,
Com esses problemas alheios.

Hoje,
Sou humano.
Acordei humano.
Talvez porque ontem,
Ao adormecer,
Tenha me permitido ser
Aquilo que, ao longo de toda a vida,
Tão poucas vezes acabei sendo:
Humano.

O hoje é apenas o reflexo de ontem,
E de tão simples e básico, sempre esquecemos.

Hoje,
Quero chorar as minhas mágoas.
Lamentar as minhas desgraças.
Sofrer as minhas tristezas.

As minhas.

Vou dar um tempo ao mundo.
Que ele siga com seus problemas,
Enquanto eu tento resolver os meus.

Sei que, cedo ou tarde, isso vai passar,
Ou, então, acabar de uma vez por todas.
Mas como nada é eterno,
Me ponho a esperar.

Mas hoje,
Só quero sentar e fazer as pazes com o tempo.
Quando a resolução não está ao alcance de nossos dedos,
O mais sensato é tentar ser amigo das horas.

Hoje,
A fome dos outros pouco me importa.
Se sentem frio, tanto faz.
E se tantos morrem sem razão, não vejo injustiça alguma nisso.
Como eu disse, hoje sou humano.
Sensível, debilitado e estúpido,
Assim como qualquer outro.

Hoje,
Só quero saber de mim
E de mais alguém.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Desespero




Que vontade insana é essa
Que, sem aviso,
Apodera-se de mim?

Um desejo incontrolável
De te chamar,
De bater à sua porta e, mesmo contra sua vontade,
Te fazer escutar o que tenho a dizer.

Quero te ligar de madrugada,
Tirar você da cama, do sono, do conforto.
Jogar na sua cara o meu sentimento.
Esfregar na sua língua o gosto amargo do sofrimento
E da saudade.

Encontrar você com a mais bagunçada das caras.
Olhos e cabelos de um louco,
Com palavras tão ébrias quanto meu próprio estado,
Carregando, amassada entre minhas mãos, uma foto sua.

Quero te deixar na chuva,
Pensando em tudo o que eu disse.

Quero que sinta pena, raiva, nojo.
Quero que sinta tudo.
Quero que sinta.


Mas não...

Loucuras e sentimentos só são bonitos
E fazem sentido,
Quando são correspondidos.

Gritar e beijar cartas antigas,
Longe de ser compreensível,
Soa como desespero.

E a vontade,
Insana,
Incontrolável,
Já não parece, assim, tão selvagem,
Indomável.

Aos poucos, reprimo tudo o que consigo,
E o que se mostrava tão certo,
Novamente vira dúvida.

Vou te deixar dormir.

Por quanto tempo, não sei.
Mais uma noite, talvez?
Difícil dizer,
Já que esse rompante de ânsia vem quando quer.

E dessa vez,
Curvando-me ante minha própria natureza,
Deixo que a razão cale a insanidade.

Sozinho,
Destilo palavras ao nada.
Poemas guardados em garrafas,
Jogadas ao mar do acaso.


Você me disse como deveria ser,
E eu, como posso, respeito.


Controlo o incontrolável
E, friamente, atravesso mais uma noite.

Corpo


Quem dera
Eu pudesse, enfim, ver seu corpo,
Para, então, ter certeza de sua morte.

A angústia de não saber,
Aos poucos,
Mata aquele que espera.
E enquanto reviro pensamentos
E fantasias,
Imagino cenas e desfechos,
Querendo aceitar, de uma vez por todas, que já não está mais aqui.

Queria saber
Que você, há tempos, deixou de existir.
Que sua presença, ao contrário do que minha esperança teima em insistir,
Já não se encontra em meu universo.

Queria saber
Que, apesar de minha saudade,
A estrada não permite retornos.

Ah, como eu queria...

Como eu queria ver seu corpo.
Como eu queria, sem mais delongas, poder seguir em frente,
Sem esperar pelo improvável.
Pelo impossível.

Como eu queria...

Preciso saber
Se ainda vive ou se já cessou sua permanência.
Preciso saber, pois, só quando souber,
Poderei, também, decidir
Se tento viver
Ou se te acompanho no esquecimento.

domingo, 27 de maio de 2012

Amor


     - Diga-me. Você, que apesar de tão jovem sabe tanto sobre tudo, explique-me o que é o amor.

     - Eu não sei.

     A frustração era visível no semblante daquele que perguntara.

     - Mas... Há algo estranho que acontece comigo, sabe? Quando estou em um roda de amigos, ou em uma festa, sempre vejo uma pessoa em especial.

     - Como assim? Não entendi. Essa pessoa a que você se refere está sempre nesses lugares?

     - Não, não... Ela está comigo... Ou melhor, ela está em mim...

     O questionador permanecia em silêncio, aguardando uma continuação.

     - É difícil de explicar, na verdade... Talvez só quem tenha um alguém, assim como eu tenho, pode entender, mas, basicamente, é como ter alguém que nunca sai do seu pensamento... Nunca...

     - Nossa... Mas e isso não é ruim? Cansativo?

     - Olha... Depende... Se, por exemplo, você não puder estar com essa pessoa, torna-se algo muito ruim... Entende? Não gosto de usar esse termo, pois ninguém pertence a ninguém, mas se você não possuir essa pessoa que está no seu pensamento, ou se você nâo for dela, também, esses pensamentos acabam virando algo muito triste, dolorido... Solitário...

     - Fale mais, por favor...

     - Bem... Eu fico, sim, com outras pessoas... Beijo, troco carinhos e afins, afinal, sou humano e, por enquanto, estou vivo... Entende? Provo de outros sabores, sinto outros cheiros, vou preenchendo meu livro de histórias, mas... Quando me encontro sozinho, lá vem aquela pessoa. Apenas na minha mente, mas vem. Começa como um tipo de saudade que, aos poucos, vai se transformando... Quando dou por mim, já estou olhando fotos antigas e coisas do tipo... Me pego lembrando de bons momentos ou, então, imaginando os que não existem... Enfim... Quando percebo, já estou querendo estar com aquela pessoa... - Ele fez uma pequena pausa, como que buscando alguma informação escondida em algum canto da mente. - Ontem, mesmo, conheci uma pessoa maravilhosa... Tivemos uma noite incrível, aliás... Mas quando cheguei em casa e o silêncio me circundou... Pronto... Lá veio a imagem daquela pessoa... E como se isso não bastasse, há sempre uma voz, embora muda, que fica te martelando a cabeça, dizendo o óbvio: Que você seria capaz de trocar, largar, recusar qualquer pessoa, momento ou oportunidade, por aquela pessoa... Por mais que a sua vida esteja tranquila e rentável, digamos assim, você, sem dúvida alguma, trocaria o que quer que fosse para estar com aquela pessoa... Entende? Sim... Eu sei que é difícil explicar, e não sei nem se isso te ajuda de alguma forma, mas achei interessante comentar e... Enfim...

     Aquele que havia perguntado, tranquilamente fechou os olhos, baixou a cabeça e, de um dos cantos de se sua boca, deixou escapar um sorriso. Um sorriso simples, pequeno, mas extremamene confidente. Sim, aquilo o havia ajudado. Aquela resposta, até então, esparsa, sem nexo, sem ligação direta com a sua pergunta, havia esclarecido muito mais do que ele esperava. Na verdade, aquele discurso, tão inconclusivo, dissera mais do que todas as respostas que ele tivera até aquele momento.

     - É... Talvez a minha pergunta não seja daquelas que exigem uma reposta... - Ele sorriu e olhou para o amigo.

    - É... Talvez não seja, mesmo... - Um sorriso, igualmente confidente, encerrou a conversa.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

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Vão-se os livros.

Ficam as histórias.

Recomeço


     - Você promete? - Perguntou ela, com os olhos marejados, quase transbordando.

     - Sim, eu prometo. - A voz dele, terna e acalentadora, conseguia ser, também, firme e cheia de segurança. Seu olhar, apesar de não estar choroso como o dela, estava carregado de carinho e compreensão.

     - Eu ainda não sei o que dizer...

     - Não precisa dizer nada... Calma... Agora está tudo bem...

     Ela deixou escapar um suspiro repleto de alívio. A mágoa, que há muito se alojara em seu peito, agora fluía serena, rumo ao nada, prestes a desaparecer de uma vez por todas. Ela fechou os olhos, respirou fundo e passou a mão pelos cabelos desgrenhados, tentando assimilar toda aquela carga emocional repentina. Não é sempre que se houve algo desse tipo. Não é sempre que alguém faz uma jura de tal magnitude.

     - Olha... Desculpe... Eu ainda não sei bem o que fazer... É tanta coisa que... Ah, eu não sei... Eu só sei que estou muito, mas muito feliz...

     Ele riu. Aquele sorriso, já tão conhecido por ela, mais uma vez se mostrou presente quando foi necessário. - Calma, calma... Como eu disse, agora está tudo bem... Vamos sem pressa, aos poucos... Uma coisa de cada vez... Aos pedacinhos vamos construir essa nova história... Sei que já tentamos muitas vezes e não conseguimos, mas agora temos tudo pra fazer acontecer... Dessa vez temos certeza do que queremos, e isso vai fazer toda a diferença... Agora é para sempre...

     - Obrigada... Muito obrigada... Você não tem, sequer, noção de como estou feliz!

     - Não, não! Não agradeça! Isso não é um favor!

     - Ela riu, feliz e confusa. - Certo, certo... Sem mais agradecimentos, então... - Uma lágrima que tentava escapar foi contida com o dorso da mão. Os olhos, borrados pela maquiagem úmida, davam a ela um aspecto ainda mais frágil e meigo. - Olha... Eu sei que parece bobagem, mas... Como vamos fazer? Digo... Como vai ser daqui pra frente? Não sei bem por onde começar, apesar de toda a vontade...

     - Bem... - Ele, compreensivo, como sempre, tentou explicar o inexplicável. - Começamos com coisas pequenas, pra não nos assustarmos... Eu deixo de olhar suas fotos, você deixa de olhar as minhas... Depois, quando nos sentirmos mais seguros, podemos tentar algo maior, mais sério... Podemos jogar fora os presentes, as cartas e os cartões... E assim vamos indo. Aos poucos vamos chegar onde queremos... - Ele a olhava com uma ternura imensurável.

     - Ah, garoto... - O riso e o choro recomeçaram. Era muita alegria para uma única pessoa. - Eu não sei o que dizer...

     - Você não precisa dizer nada.... Aliás, você pode dizer, se quiser, aquelas poucas palavras... Aquelas que dizem tudo com quase nada... - Ele enfatizou propositalmente a palavra "aquelas".

     Ela sorriu. Sempre admirou a habilidade dele com as palavras. Para ela, era quase como um dom. O dom de dizer a coisa certa, no momento certo, com as palavras perfeitas. Ficou em silêncio por alguns instantes, apenas contemplando o rosto dele, com o olhar cravado naqueles olhos tão familiares. Por fim, as palavras saíram suave e carinhosamente de sua boca. - Eu não te amo...

     - Eu também não. - Disse ele, retribuindo o olhar. - Eu também não...

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Retratos

Deslizo o dedo pela sua foto,
Esperando que você, tão longe,
Possa sentir algo.

Esse rosto, lindo e sorridente,
Que tantas vezes toquei,
Hoje me olha frio,
Emoldurado.
Distante e protegido de mim,
Atrás de um vidro embaçado
Por lágrimas e beijos.

Uma infinidade de fotos
E lembranças.

Registros de um começo incerto,
Mas extremamente feliz.
Dois rostos juvenis,
Com um sorriso envergonhado,
Ainda não acostumados
Ao novo mundo que se mostrava.

E na noite,
Perdidos em nossa própria alegria,
Mais fotografias.
Às luzes de uma praça qualquer,
Um beijo torto,
Fora de foco e desenquadrado.
Lábios apertados,
Misturados a um sorriso.

Festas, viagens, momentos.
São tantas imagens.

E um simples álbum,
Aos poucos se transforma em um livro de gravuras.
Um livro que, mesmo sem palavras,
Conta a melhor de todas as histórias.

E assim, atravesso noites e madrugadas,
Contando para mim a mesma história,
Um incontável número de vezes,
Enquanto, feito criança, espero adormecer.

Mas não consigo.

Eu

Quem diria.

Eu,
Que sempre fui tão avesso a esses caprichos.
Que nunca me permiti,
Até então,
Perder tempo com isso,
Estou aqui,
Insone,
Varando a noite,
Esperando por um desfecho que,
Sei lá,
Quando virá.

Logo eu,
Que sempre rebati gestos e olhares.
Que ostentava,
Com orgulho,
O vazio que trazia comigo,
Hoje, sorrio,
Sozinho,
E fantasio acerca do futuro,
Invertendo minhas prioridades.

Entretanto,
Apesar das coisas boas,
Não há apenas a alegria.
Não há somente o riso frouxo,
Bobo.
Há, também, a tristeza.
Tamanha, a propósito, que acaba virando agonia.

Há o choro.
Calado, consciente, conformado.
O lamento de quem sabe que está perdido.

As lágrimas,
Ocultas e silenciosas,
Denunciam a verdade.
Enquanto rolam, elas escrevem,
Deixando claro que já é muito tarde.


E por isso tudo, me surpreendo.


Quem diria.

Logo eu,
Sempre mergulhado na razão,
Agora me vejo falando sozinho.

Simulo a presença.
Invento diálogos.
Uma tentativa desesperada
E inútil
De te trazer para perto de mim.

Logo eu,
Que há muito pensei estar morto,
Acabo, com isso tudo, me dando conta do óbvio:

A dor é privilégio dos vivos,
E a julgar pela dor que sinto,
Estou mais vivo do que nunca.


Quem diria.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Pequena

Não costumo postar coisas que não sejam de minha autoria. É a primeira vez que faço isso, aliás.

Mas por se tratar de uma situação tão especial, estou abrindo uma exceção.


Eu preciso abrir essa exceção, na verdade...



***


***


Por Que Você Faz Assim Comigo? - Mallu Magalhães

Por que você faz assim comigo?
Parece querer me machucar.
Por que você olha assim pra mim?
Não vê qu'eu preciso descansar?

Até há pouco tava tudo bem,
Todos os sonhos cultivados,
Agora pouco eu até reguei
As flores qu'eu tinha plantado.

Talvez eu seja pequena,
Lhe cause tanto problema
Que já não lhe cabe me cuidar,
Talvez eu deva ser forte,
Pedir ao mar
Por mais sorte
E aprender a navegar.

Talvez eu seja pequena,
Lhe cause tanto problema
Que já não lhe cabe me cuidar,
Talvez eu deva ser forte,
Pedir ao mar
Por mais sorte
E aprender a navegar.

sábado, 5 de maio de 2012

...


Há alguns dias, em uma fila, enquanto remoía pensamentos (e sentimentos) confusos, olhei para o chão...




Uma "borrachinha de dinheiro", retorcida e descartada, ainda tentando ser útil para alguém...

quarta-feira, 2 de maio de 2012

...

- Pois é, Renato... Se tem a cura, eu não sei... Mas quando penso nela, desaparece essa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi...

Luz

Que grata é a sensação
De, em meio à escuridão,
Encontrar
E agarrar-se
A um filete de luz

Um ponto,
Uma chama,
Uma fresta.
Uma lembrança.
Pouco importa a forma,
A origem,
Desde que revigore a energia.

Mas antes que o que digo
Dê margem à dúvidas,
Aviso.
Afirmo.
Gosto, sim, da escuridão.
Do seu nada, da sua calma.
Da sua paz.

Entretanto,
Uma verdade absoluta,
Dura
E incontestável
Esconde-se sob o manto frágil da penumbra.

Sequer o mais vigoroso dos amantes
Deve esquecer
Que a dama das sombras
A ninguém pertence.

Aqueles que a adoram,
São meros escravos.
Por vezes, amigos.
Até amados,
Mas nunca dominantes.
Sempre dominados.

E seus domínios,
Infindáveis e obscuros,
Enloquecem os que se atrevem
A esquecer seus caminhos,
Plenos de entradas e saídas.

A escuridão, sem piedade alguma,
Devora,
Apaga,
Ensandece,
Quem, por descuido ou soberba,
Perde as chaves
E os mapas
De seu intrincado labirinto.


Entre minhas mãos,
Um ponto vívido
E breve
De sanidade.
Aproveito a oportunidade,
E me questiono
Acerca da razão de estar aqui,
Preso,
Perdido,
Um tanto morto.

Terá sido fraqueza,
Ou arrogância?

O fato é que,
De onde estou,
Não consigo ver quase nada.
Alguns vultos,
Muitas sombras,
Mas nada que me pareça familiar.

Então eu rio,
Zombando de minha própria desgraça.
Quem diria,
Logo eu, tão senhor das coisas desgraçadas,
Vejo-me aqui, choroso,
Enquanto, com olhar débil e ânimo inflado,
Agarro-me a esse mísero pingo de esperança.


De qualquer maneira, pouco importa.
Minha situação não me permite questionamentos.
Talvez eu encontre um novo caminho,
Ou talvez eu continue perdido.
A verdade é que,
Por enquanto,
Vou degustando o pouco que tenho.

Baixo a cabeça,
Confesso,
E compreendo.
Um vento, uma brisa,
Uma gota gelada.
Qualquer dose de lucidez,
Prazerosa ou dolorida,
É um sopro de vida,
Na vida de quem há tempos já morreu.

terça-feira, 1 de maio de 2012