Depois de muito tempo, ela
voltou.
Reapareceu do nada, como um
desconhecido que chega em uma casa qualquer, por um motivo aleatório.
Os olhos serenos. O rosto
tranquilo. A paz e a segurança estampadas em seu semblante. Os lábios, que até
então estavam cerrados, não esboçavam sequer um sorriso. Também não havia, em
contrapartida, uma fina e única linha de mágoa ou rancor. Não havia nada além
da inexpressividade tranquila.
Ele, por sua vez, devorava-se
por dentro. Tudo o que havia sido guardado, as palavras não ditas, o silêncio
forçado, agora pareciam querer explodir através de sua boca. O calor cheio de
fúria que subia por sua garganta fazia-o cerrar os dentes, quase ao ponto de
trincá-los. Ele, literalmente, bufava.
Foi ela, no entanto, quem
desferiu a primeira sentença.
- Eu te amo.
E disse assim, sem mais nem
menos, como se tudo tivesse acontecido ontem ou há apenas algumas horas.
Aliás, disse com tamanha simplicidade, que nada parecia ter acontecido.
Ele desarmou-se. Seu corpo
tremeu por inteiro, e a raiva, tão certa e encravada em seu peito, titubeou,
dando lugar à fraqueza. Por um instante, ele se viu retribuindo o que ela
dissera, mas permaneceu em silêncio.
Ela, por sua vez, nada mais
disse. E a boca, antes fechada, agora exibia um sorriso suave e familiar. O
mesmo sorriso de tempos atrás.
Ele, no entanto, percebeu algo
mais. Em um dos cantos daqueles lábios escondia-se outro sentimento. Havia
sinceridade, é verdade, mas havia mais do que isso. Uma curva maldosa, irônica,
quase cínica. Havia, sim, prazer naquele sorriso. Um prazer vingativo.
Sim. Ela estava vingada.
Depois de tanto tempo, ela
finalmente estava no lugar que ele, mesmo sem maldade, já ocupara tantas vezes.
Agora ela estava, como os outros costumam dizer, por cima, por isso sorria
daquele jeito.
Ele estava em uma de suas
mãos, e ela não fazia questão alguma de esconder o prazer que isso lhe dava.
O sentimento, por mais nobre
que seja, sempre cede a algum apelo mais humano.
A vingança suave, cheia de
carinho. O abraço pronto para acolher, impregnado de um regozijo maldoso.
"Sim... Agora é a minha
vez..."
E ela estendeu os braços.
E ela esperou para dar o que
ele por tanto tempo quisera e, tinha certeza, ainda queria.
E ela estava ali, carinhosa,
plena e vingada.
Ele deu dois passos à frente,
fez meia volta e foi embora, deixando para trás, além dela, tudo o que havia
carregado sozinho durante tanto tempo.
Enfim, ele percebeu: Ela não
era única. Ela não era especial.
Ela era apenas mais uma, igual
a todas as outras pessoas.
O sentimento, por mais nobre
que seja, sempre cede a algum apelo mais humano.
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