[[ TRECHO TESTE - ROMANCE]]
Despertou
de um sono estranho, pois não lembrava de estar dormindo. Na confusão de sua
mente, a realidade veio como uma continuação ininterrupta de um possível sonho,
ainda que não conseguisse distinguir e delimitar onde estava o fim de um e o
começo do outro.
Embora
tivesse consciência de estar desperto, algo não estava de acordo com sua
familiaridade de lucidez. Percebeu-se flutuando. Seu corpo parecia não existir,
pois não conseguia sentir nada além de um leve desconforto nos olhos, os quais
não conseguia mover ou piscar. Estranhamente, percebeu que, na verdade, não
precisava piscar. Tentou mover a cabeça para os lados, mas não conseguiu. Sentia-se,
ao mesmo tempo, completamente imóvel e igualmente livre. A sensação, em grande
parte pelo torpor de seus sentidos, era indefinível.
Uma
luz forte e dura o envolvia, distorcendo imagens confusas, refratadas pelo
aspecto turvo de uma espécie de líquido onde parecia estar mergulhado. Turvo...
Sim! Enfim compreendeu que estava, de fato, imerso em um líquido! Naturalmente,
a sensação de asfixia e o medo de um possível afogamento tomaram conta de seus
pensamentos, não fosse pelo estranhíssimo fato de que, incompreensivelmente,
não precisava respirar.
Definitivamente,
ele não sabia o que estava acontecendo. A ausência total de dor, ainda que de
certa forma o tranquilizasse, preocupava-o com a mesma intensidade.
Não
era possível saber o momento exato em que ele viria a compreender o que havia
acontecido. Assim como todos os outros que estavam ali, dos quais ainda não
tinha conhecimento, ele também teria o seu momento. Aos poucos, assimilaria tudo
o que, até então, havia passado despercebido por seus sentidos entorpecidos. Os
olhos, ainda sensíveis e desajustados, acabariam por reconhecer a figura que
estava alguns metros a sua frente. O tempo, então, passaria a ser eterno a partir
do momento em que ele percebesse que era, e para sempre seria, apenas um
cérebro vivo, preso a tubos e fios, flutuando em um aquário grotesco de pedaços
humanos.
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