terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Respostas

- Afinal, qual é o sentido da vida?

- Bom... Acho que não há um sentido, na verdade... Ou melhor, até há, mas... Essa é difícil de responder, hein? Não tem uma mais fácil?

- Ah, claro... - Ele riu. - Tenho, sim. Qual é o segredo da felicidade?

- Ah, agora sim! Essa não é das mais fáceis, também, eu admito, mas é melhor que a outra... Enfim...

- Hum... Sei... Tá, qual é o segredo da felicidade? - Estava começando a desconfiar que ele não tinha a resposta para todas as perguntas, como todos diziam.

- Você quer uma resposta simples ou complexa?

- Ah, por favor... Tanto faz... Qual é a diferença?

- Bem, há pessoas simples e pessoas complexas... Há quem se contente com a superfície, com a pele, com a casca, enquanto outros não se dão por satisfeitos até encontrarem o núcleo, a alma, o caroço, e...

- Olha. - Ele interrompeu bruscamente. - Se você sabe tudo, mesmo, então deve saber que tipo de pessoa eu sou, certo? Façamos assim. Responda de modo que eu entenda.

Ele fixou o olhar por alguns instantes naquela criatura sagaz e curiosa. O observado, por sua vez, devolveu o olhar, mas o seu estava carregado de escárnio. As sobrancelhas arqueadas, o sorriso no canto da boca. A escultura perfeita da superioridade vazia. Aquela construída não no próprio conhecimento, mas sim, na ignorância alheia.

- Certo... Bom, o segredo da felicidade é viver a vida sem se dar conta do que ela é...

As sobrancelhas caíram. O sorriso torto se desfez. O velho o havia colocado no bolso com aquela resposta curta, simples e, aparentemente, tola. Quase desconexa.

Mas o impacto maior, mesmo, veio quando ele se deu conta de que aquela resposta, tão banal, tão piegas, por assim dizer, respondia muito mais do que aquele último questionamento. Aquela resposta preenchia a sua primeira pergunta, que, até então, havia ficado sem resposta.

Aquela resposta, na verdade, preenchia todos os questionamentos que ele já havia feito até hoje, ao longo de toda a sua vida.

E isso o aterrorizou.

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