quarta-feira, 9 de maio de 2012

Eu

Quem diria.

Eu,
Que sempre fui tão avesso a esses caprichos.
Que nunca me permiti,
Até então,
Perder tempo com isso,
Estou aqui,
Insone,
Varando a noite,
Esperando por um desfecho que,
Sei lá,
Quando virá.

Logo eu,
Que sempre rebati gestos e olhares.
Que ostentava,
Com orgulho,
O vazio que trazia comigo,
Hoje, sorrio,
Sozinho,
E fantasio acerca do futuro,
Invertendo minhas prioridades.

Entretanto,
Apesar das coisas boas,
Não há apenas a alegria.
Não há somente o riso frouxo,
Bobo.
Há, também, a tristeza.
Tamanha, a propósito, que acaba virando agonia.

Há o choro.
Calado, consciente, conformado.
O lamento de quem sabe que está perdido.

As lágrimas,
Ocultas e silenciosas,
Denunciam a verdade.
Enquanto rolam, elas escrevem,
Deixando claro que já é muito tarde.


E por isso tudo, me surpreendo.


Quem diria.

Logo eu,
Sempre mergulhado na razão,
Agora me vejo falando sozinho.

Simulo a presença.
Invento diálogos.
Uma tentativa desesperada
E inútil
De te trazer para perto de mim.

Logo eu,
Que há muito pensei estar morto,
Acabo, com isso tudo, me dando conta do óbvio:

A dor é privilégio dos vivos,
E a julgar pela dor que sinto,
Estou mais vivo do que nunca.


Quem diria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário