quarta-feira, 2 de maio de 2012

Luz

Que grata é a sensação
De, em meio à escuridão,
Encontrar
E agarrar-se
A um filete de luz

Um ponto,
Uma chama,
Uma fresta.
Uma lembrança.
Pouco importa a forma,
A origem,
Desde que revigore a energia.

Mas antes que o que digo
Dê margem à dúvidas,
Aviso.
Afirmo.
Gosto, sim, da escuridão.
Do seu nada, da sua calma.
Da sua paz.

Entretanto,
Uma verdade absoluta,
Dura
E incontestável
Esconde-se sob o manto frágil da penumbra.

Sequer o mais vigoroso dos amantes
Deve esquecer
Que a dama das sombras
A ninguém pertence.

Aqueles que a adoram,
São meros escravos.
Por vezes, amigos.
Até amados,
Mas nunca dominantes.
Sempre dominados.

E seus domínios,
Infindáveis e obscuros,
Enloquecem os que se atrevem
A esquecer seus caminhos,
Plenos de entradas e saídas.

A escuridão, sem piedade alguma,
Devora,
Apaga,
Ensandece,
Quem, por descuido ou soberba,
Perde as chaves
E os mapas
De seu intrincado labirinto.


Entre minhas mãos,
Um ponto vívido
E breve
De sanidade.
Aproveito a oportunidade,
E me questiono
Acerca da razão de estar aqui,
Preso,
Perdido,
Um tanto morto.

Terá sido fraqueza,
Ou arrogância?

O fato é que,
De onde estou,
Não consigo ver quase nada.
Alguns vultos,
Muitas sombras,
Mas nada que me pareça familiar.

Então eu rio,
Zombando de minha própria desgraça.
Quem diria,
Logo eu, tão senhor das coisas desgraçadas,
Vejo-me aqui, choroso,
Enquanto, com olhar débil e ânimo inflado,
Agarro-me a esse mísero pingo de esperança.


De qualquer maneira, pouco importa.
Minha situação não me permite questionamentos.
Talvez eu encontre um novo caminho,
Ou talvez eu continue perdido.
A verdade é que,
Por enquanto,
Vou degustando o pouco que tenho.

Baixo a cabeça,
Confesso,
E compreendo.
Um vento, uma brisa,
Uma gota gelada.
Qualquer dose de lucidez,
Prazerosa ou dolorida,
É um sopro de vida,
Na vida de quem há tempos já morreu.

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