sexta-feira, 18 de maio de 2012

Recomeço


     - Você promete? - Perguntou ela, com os olhos marejados, quase transbordando.

     - Sim, eu prometo. - A voz dele, terna e acalentadora, conseguia ser, também, firme e cheia de segurança. Seu olhar, apesar de não estar choroso como o dela, estava carregado de carinho e compreensão.

     - Eu ainda não sei o que dizer...

     - Não precisa dizer nada... Calma... Agora está tudo bem...

     Ela deixou escapar um suspiro repleto de alívio. A mágoa, que há muito se alojara em seu peito, agora fluía serena, rumo ao nada, prestes a desaparecer de uma vez por todas. Ela fechou os olhos, respirou fundo e passou a mão pelos cabelos desgrenhados, tentando assimilar toda aquela carga emocional repentina. Não é sempre que se houve algo desse tipo. Não é sempre que alguém faz uma jura de tal magnitude.

     - Olha... Desculpe... Eu ainda não sei bem o que fazer... É tanta coisa que... Ah, eu não sei... Eu só sei que estou muito, mas muito feliz...

     Ele riu. Aquele sorriso, já tão conhecido por ela, mais uma vez se mostrou presente quando foi necessário. - Calma, calma... Como eu disse, agora está tudo bem... Vamos sem pressa, aos poucos... Uma coisa de cada vez... Aos pedacinhos vamos construir essa nova história... Sei que já tentamos muitas vezes e não conseguimos, mas agora temos tudo pra fazer acontecer... Dessa vez temos certeza do que queremos, e isso vai fazer toda a diferença... Agora é para sempre...

     - Obrigada... Muito obrigada... Você não tem, sequer, noção de como estou feliz!

     - Não, não! Não agradeça! Isso não é um favor!

     - Ela riu, feliz e confusa. - Certo, certo... Sem mais agradecimentos, então... - Uma lágrima que tentava escapar foi contida com o dorso da mão. Os olhos, borrados pela maquiagem úmida, davam a ela um aspecto ainda mais frágil e meigo. - Olha... Eu sei que parece bobagem, mas... Como vamos fazer? Digo... Como vai ser daqui pra frente? Não sei bem por onde começar, apesar de toda a vontade...

     - Bem... - Ele, compreensivo, como sempre, tentou explicar o inexplicável. - Começamos com coisas pequenas, pra não nos assustarmos... Eu deixo de olhar suas fotos, você deixa de olhar as minhas... Depois, quando nos sentirmos mais seguros, podemos tentar algo maior, mais sério... Podemos jogar fora os presentes, as cartas e os cartões... E assim vamos indo. Aos poucos vamos chegar onde queremos... - Ele a olhava com uma ternura imensurável.

     - Ah, garoto... - O riso e o choro recomeçaram. Era muita alegria para uma única pessoa. - Eu não sei o que dizer...

     - Você não precisa dizer nada.... Aliás, você pode dizer, se quiser, aquelas poucas palavras... Aquelas que dizem tudo com quase nada... - Ele enfatizou propositalmente a palavra "aquelas".

     Ela sorriu. Sempre admirou a habilidade dele com as palavras. Para ela, era quase como um dom. O dom de dizer a coisa certa, no momento certo, com as palavras perfeitas. Ficou em silêncio por alguns instantes, apenas contemplando o rosto dele, com o olhar cravado naqueles olhos tão familiares. Por fim, as palavras saíram suave e carinhosamente de sua boca. - Eu não te amo...

     - Eu também não. - Disse ele, retribuindo o olhar. - Eu também não...

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