domingo, 27 de maio de 2012

Amor


     - Diga-me. Você, que apesar de tão jovem sabe tanto sobre tudo, explique-me o que é o amor.

     - Eu não sei.

     A frustração era visível no semblante daquele que perguntara.

     - Mas... Há algo estranho que acontece comigo, sabe? Quando estou em um roda de amigos, ou em uma festa, sempre vejo uma pessoa em especial.

     - Como assim? Não entendi. Essa pessoa a que você se refere está sempre nesses lugares?

     - Não, não... Ela está comigo... Ou melhor, ela está em mim...

     O questionador permanecia em silêncio, aguardando uma continuação.

     - É difícil de explicar, na verdade... Talvez só quem tenha um alguém, assim como eu tenho, pode entender, mas, basicamente, é como ter alguém que nunca sai do seu pensamento... Nunca...

     - Nossa... Mas e isso não é ruim? Cansativo?

     - Olha... Depende... Se, por exemplo, você não puder estar com essa pessoa, torna-se algo muito ruim... Entende? Não gosto de usar esse termo, pois ninguém pertence a ninguém, mas se você não possuir essa pessoa que está no seu pensamento, ou se você nâo for dela, também, esses pensamentos acabam virando algo muito triste, dolorido... Solitário...

     - Fale mais, por favor...

     - Bem... Eu fico, sim, com outras pessoas... Beijo, troco carinhos e afins, afinal, sou humano e, por enquanto, estou vivo... Entende? Provo de outros sabores, sinto outros cheiros, vou preenchendo meu livro de histórias, mas... Quando me encontro sozinho, lá vem aquela pessoa. Apenas na minha mente, mas vem. Começa como um tipo de saudade que, aos poucos, vai se transformando... Quando dou por mim, já estou olhando fotos antigas e coisas do tipo... Me pego lembrando de bons momentos ou, então, imaginando os que não existem... Enfim... Quando percebo, já estou querendo estar com aquela pessoa... - Ele fez uma pequena pausa, como que buscando alguma informação escondida em algum canto da mente. - Ontem, mesmo, conheci uma pessoa maravilhosa... Tivemos uma noite incrível, aliás... Mas quando cheguei em casa e o silêncio me circundou... Pronto... Lá veio a imagem daquela pessoa... E como se isso não bastasse, há sempre uma voz, embora muda, que fica te martelando a cabeça, dizendo o óbvio: Que você seria capaz de trocar, largar, recusar qualquer pessoa, momento ou oportunidade, por aquela pessoa... Por mais que a sua vida esteja tranquila e rentável, digamos assim, você, sem dúvida alguma, trocaria o que quer que fosse para estar com aquela pessoa... Entende? Sim... Eu sei que é difícil explicar, e não sei nem se isso te ajuda de alguma forma, mas achei interessante comentar e... Enfim...

     Aquele que havia perguntado, tranquilamente fechou os olhos, baixou a cabeça e, de um dos cantos de se sua boca, deixou escapar um sorriso. Um sorriso simples, pequeno, mas extremamene confidente. Sim, aquilo o havia ajudado. Aquela resposta, até então, esparsa, sem nexo, sem ligação direta com a sua pergunta, havia esclarecido muito mais do que ele esperava. Na verdade, aquele discurso, tão inconclusivo, dissera mais do que todas as respostas que ele tivera até aquele momento.

     - É... Talvez a minha pergunta não seja daquelas que exigem uma reposta... - Ele sorriu e olhou para o amigo.

    - É... Talvez não seja, mesmo... - Um sorriso, igualmente confidente, encerrou a conversa.

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