segunda-feira, 28 de maio de 2012

Desespero




Que vontade insana é essa
Que, sem aviso,
Apodera-se de mim?

Um desejo incontrolável
De te chamar,
De bater à sua porta e, mesmo contra sua vontade,
Te fazer escutar o que tenho a dizer.

Quero te ligar de madrugada,
Tirar você da cama, do sono, do conforto.
Jogar na sua cara o meu sentimento.
Esfregar na sua língua o gosto amargo do sofrimento
E da saudade.

Encontrar você com a mais bagunçada das caras.
Olhos e cabelos de um louco,
Com palavras tão ébrias quanto meu próprio estado,
Carregando, amassada entre minhas mãos, uma foto sua.

Quero te deixar na chuva,
Pensando em tudo o que eu disse.

Quero que sinta pena, raiva, nojo.
Quero que sinta tudo.
Quero que sinta.


Mas não...

Loucuras e sentimentos só são bonitos
E fazem sentido,
Quando são correspondidos.

Gritar e beijar cartas antigas,
Longe de ser compreensível,
Soa como desespero.

E a vontade,
Insana,
Incontrolável,
Já não parece, assim, tão selvagem,
Indomável.

Aos poucos, reprimo tudo o que consigo,
E o que se mostrava tão certo,
Novamente vira dúvida.

Vou te deixar dormir.

Por quanto tempo, não sei.
Mais uma noite, talvez?
Difícil dizer,
Já que esse rompante de ânsia vem quando quer.

E dessa vez,
Curvando-me ante minha própria natureza,
Deixo que a razão cale a insanidade.

Sozinho,
Destilo palavras ao nada.
Poemas guardados em garrafas,
Jogadas ao mar do acaso.


Você me disse como deveria ser,
E eu, como posso, respeito.


Controlo o incontrolável
E, friamente, atravesso mais uma noite.

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